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terça-feira, 22 de abril de 2014

Tordesilhas: O tratado que colonizou o Brasil



Nós não falamos português por acaso.

Linha imaginária demarcando os territórios pertencentes
 à Portugal e Castela em 1494.
O Brasil foi ''descoberto'' em 1500, com a chegada da frota do navegador Pedro Álvares Cabral. Portugal era uma das monarquias mais antigas e importantes da Europa, além de possuir habilidades náuticas mais avançadas do que os demais reinos. Mas antes da ''descoberta'' do Brasil feita por Cabral, iniciavam diversas expedições com o desejo de encontrar uma nova rota até as índias e possíveis descobrimentos de terras para a monopolização, o que ocorre em 1492 quando numa rota de circunavegação Cristóvão Colombo encontra as ilhas caribenhas ou a ''América''.
 No final do século XV milhares de cartógrafos e marinheiros saídos da cidade italiana de Gênova seguiram para Portugal em busca de melhores conhecimentos e experiências, e um desses expatriados era Cristóvão Colombo, que chega no norte de Lisboa e se junta ao seu irmão em um negócio comercial onde passava a trabalhar com mapas e como mercador sendo contratado em diversas viagens comerciais, Colombo que era analfabeto, aprendeu a  ler e escrever em Português (língua usada nos comércios náuticos no Atlântico). Segundo o historiador Stephen Bown seria provavelmente as duas combinações que deu a ele a ideia de que havia ilhas que ainda não foram descobertas no Atlântico e assim o mundo não estava totalmente conhecido.
O rei João II de Portugal em retrato anônimo por volta de 1500.
Considerado como um grande financiador das expedições marítimas
 em Portugal. A priri recusou-se a financiar as viagens de Colombo,
mas depois colaborou na negociação do Tratado de Tordesilhas.
Após décadas de experiências nas navegações pelas ilhas conquistadas e pela costa africana, a ambição de Colombo crescia cada vez mais, Com sua idealização de encontrar uma nova rota ás Índias, o genovês tentou apresentar uma proposta ao jovem rei de Portugal, D. João II, que não via problema nenhum em gastar os recursos do Estado para o custo das viagens que estivessem dentro de seu monopólio, porém a viagem proposta de Colombo era de competir com viagens que estavam acontecendo ao mesmo tempo, já que João II havia investido muito dinheiro na tentativa de uma nova rota mais eficaz, e posteriormente causando problemas políticos com o Papa e os monarcas de Castela e Aragão, já que a zona que seria explorada era aberta e possivelmente ocorreria uma tensão entre ambos monarcas. Depois das recusas do rei português, o navegador apresentou a proposta aos reis católicos que após o fim da reconquista em 1492 foi aceita e a viagem feita, onde o genovês encontra novas terras e reivindicou como monopólio hispânico.
O retorno de Colombo bem sucedido em favor de Castela e Aragão deixou enfurecido o rei português João II, que recorreu a uma série de documentos papais na tentativa de obter os territórios no novo mundo e os descobrimentos posteriores, no intuito de reclamar as ''Índias'' para Portugal, o rei equipou uma frota para cruzar o oceano. Os monarcas de Castela e Aragão enviaram ao papa, uma carta na qual pudesse haver um debate sobre a questão do descobrimento feito por Colombo financiado pela coroa castelhana. O papa  Alexandre VI, emitiu a primeira bula papal a Inter Caetera, designando aos reis católicos e toda sua descendência total direito sobre as terras recém conquistadas, assim o papal fazia a linha na qual dividiria o mundo.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro
por Oscar Pereira da Siva (1904)
 ''Espanha'' e Portugal confirmaram todos os decretos da bula papal Inter Caetera no tratado assinado na vila castelhana de Tordesilhas, em junho de 1494, mudando depois somente as linhas de marcação entre as zonas de influência espanhola e portuguesas centenas de milhas a oeste, tal tratado serviria para manter a paz entre dois reinos poderosos e recompensa-los pelo trabalho de ambos nas Cruzadas em favor da cristandade, e mesmo que o Tratado de Tordesilhas tenha tido outros caminhos, serviram como uma influência não só comercial mas cultural para o surgimento de nações que a priori eram colônias e que serviram como fonte de lucro e riqueza para esses dois grandes reinos que por final possibilitou então a Portugal a realizar mais expedições e em 1500 ''encontrar'' a terra que viria ser chamada muito tempo depois de Brasil.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:

BOWN, Stephen R. 1494. Tradução de Helena Londres. São Paulo: Globo,2013.

sábado, 19 de abril de 2014

Conjuração Mineira - Tiradentes e o mito do herói da República: PARTE 1


No século XVIII a região das Minas Gerais era considerada da ''menina'' dos olhos do reino português devido a alta na extração do ouro, chegando a exigir muitos recursos no processo de mineração. 
 A mais importante das reuniões dos conjurados,
por Pedro Américo.
E Durante o reinado da Rainha Maria I, que os humores entre a metrópole e colônia ficaram exaltados, gerando conflitos e tomando maiores proporções. Com a economia exaustiva na qual se encontravam os colonos pela escassez de ouro que havia em algumas regiões podendo afetar a Coroa portuguesa, medidas foram tomadas para uma rigorosa vigia de produtos extraídos da colônia. As estradas que ligavam o interior ao litoral foram proibidas de circulação e fechadas, foram exigidos que fossem feitos os pagamentos dos quintos atrasados gerando desconforto entre os colonos.
A pouco tempo as colônias que eram pertencentes à Inglaterra havia se tornado independentes e é nesse ambiente onde os humores se encontram exaltados insatisfeitos que as ideias revolucionárias vão começar a surgir. Os filhos de homens importantes na colônia que estudavam em Universidades europeias regressavam ao Brasil cheios de sentimentos de liberdade e independência contra os governos absolutistas. Com o atraso dos quintos, as taxas aumentavam cada vez mais e como consequência traria problemas financeiros para os mineiros. A economia entrava em conflitos, pois a Coroa portuguesa exigia um pagamento de 100 arrobas de ouro anuais quando a produção mineira não chegava aos 68 anuais entre os anos de 1774 e 1785. Assim as Minas Gerais passaram dever ao 364 arrobas de ouro, a derrama causou um impacto dentro da economia mineira atingindo não só a mineração mas também a população que teve que pagar as dívidas com a Coroa.
Bandeira da conjuração mineira com a
seguinte frase: Libertas quae sera tamen
(Liberdade ainda que seja tardia).  
Por dentro desta crise financeira na qual a sociedade mineira se encontrava, vão surgindo movimentos contra as decisões da metrópole. A conjuração mineira foi ganhando adeptos como o advogado e poeta Cláudio Manuel  da Costa, coronéis como Domingos  de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o alferes Joaquim Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, e outros homens que desempenhavam papéis importantes dentro da sociedade da cidade mineira de Vila Rica. Os planos dos inconfidentes, assim como também eram conhecidos, eram a proclamação das Minas Gerais (São João Del-Rei como capital) da Coroa portuguesa, além de abolir a escravidão e implantar universidades e forte comércio, porém os planos chegaram ao conhecimento do governador através de José Silvério do Rei, português, pertencente ao movimento dos inconfidentes que por fim traiu seus colegas de movimento.
 Tiradentes foi preso na cidade do Rio de Janeiro, na qual havia ido para garantir apoio a causa mineira, seus outros colegas também fora detidos em Vila Rica onde começaram a ser interrogados, tal processo para obter informações foi chamado de ''devassa''. Tiradentes só revelou os planos da conjuração após sete meses de prisão, que resultou na condenação com a pena de morte para ele e seus colegas: Alvarenga, Freire de Andrade, Maciel, Abreu Viera, Vaz de Toledo, Oliveira Lopes à pena de morte por enforcamento, os demais foram penalizados com o degredo para a África.

Martírio de Tiradentes, óleo sobre tela de
Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo.
 A influência de Tiradentes na ideologia revolucionária tornou-se forte, sua execução foi marcada para o dia 21 de Abril de 1792. A praça a Lampadosa estava lotada, onde a população pôde ver o alferes subir os degraus do cadafalso, despido, pedindo-lhe ao carrasco para que a execução fosse rápida, e após ouvir a oração do credo, o inconfidente foi executado. Morria um traidor da Coroa e nascia um mártir para a ideologia republicana. Após a morte, Tiradentes foi esquartejado, sua descendência declarada impura, sua casa demolida e sal fora jogado no solo para que nem ali as plantas nascessem. O inconfidente poderia ter morrido, mas os ideais estavam apenas começando a surgir. A figura de Tiradentes irá voltar a ser forte quando em 1889 é Proclamado a República, mas isso será visto adiante.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:
MAIOR, A. Souto. História do Brasil. Companhia editora nacional,São Paulo, ed 7ª, 1969.
MAXWELL, Kenneth. A Devassa da Devassa: A Inconfidência Mineira, Brasil - Portugal, 1750-1808. (1ª ed., 1973). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.