Lima Barreto inicia sua obra de publicação póstuma ''Os Bruzundangas''
onde ele fala de um país ''fictício'' de origem semelhante à do Brasil e ao
decorrer da história irá narrar o contexto social, político e econômico e os
problemas ''maiores'' e ''menores'' ao decorrer deste livro literário.

Afonso Henriques de Lima Barreto 1881-1922)
mais conhecido como Lima Barreto,considerado
um dos mais importantes escritores brasileiros.

mais conhecido como Lima Barreto,considerado
um dos mais importantes escritores brasileiros.
No capítulo especial ''Os Samoiedas'' o autor começa a falar da literatura desse ''país'' de forma amistosa mostrando a literatura popular e oral onde os hinos e fábulas estão presentes, além da forte presença da cultura estrangeira que se mistura com o contexto social.
De maneira generalizada, a ''Bruzundanga'' possuía todas as características que
as demais repúblicas possuíam, por exemplo, o sistema governativo. Sua fonte
econômica não era variada nem estabilizada. Seu sistema político é visto como
incompetente pelo autor a tal pouco de fazer críticas que nos remete a uma
realidade da sociedade brasileira no período inicial da república onde ele
mostra exemplos de políticos que usam o poder público em benefício próprio. A
divisão entre a elite e a população menos abastada é nítida na república da Bruzundanga,
onde nessa elite detém o poder e benefícios enquanto os pobres sofrem ao
procurar uma melhor condição de vida.
![]() |
Uma das várias edições da obra póstuma do jornalista carioca, na qual fala sobre um país fictício onde impera a desigualdade social e o péssimo uso do patrimônio nacional. |
A política econômica da República da Bruzundanga é bastante instável,
pois sendo um país de farta riqueza natural e propenso à boa evolução acaba por
se estar na miséria, mas o que o autor tenta buscar um motivo para tal coisa e
embarca numa análise da elite bruzundanguense onde o nepotismo está presente em
assuntos do Estado. As riquezas naturais da Bruzundanga são semelhantes com a
do Brasil como a borracha, ouro e diamantes, mas a base da economia do país é o
café onde envolve até a política oligárquica favorecendo os mais ricos. A
constituição da República do Bruzundanga era vista como uma mudança estrutural
pelo qual o país precisava passar onde o autor faz uma ponte entre a
Bruzundanga e o Brasil, ambos de origem colonial e que se consideravam
contemporânea, além da base econômica que é a agricultura, onde o sistema do
coronelismo é muito forte nas áreas rurais já que o braço do Estado não alcança
a população campesina.
Na sociedade bruzundanguense a elite está completamente ligada à
política, os anos passam, mas essa elite que detém o poder do Estado continua
atuando em todos os setores da vida pública. Lima Barreto ressalta o comércio
feito na república bruzundanguense, onde o capital estrangeiro era crucial para
a sociedade ao invés do enriquecimento econômico, ela acabaria por se
empobrecer comercialmente. Outra semelhança que o autor descreve é a
''autonomia'' que as províncias da Bruzundanga possuem. De certo modo não há
uma centralização do poder, ou seja, é semelhante ao sistema de oligarquias que
o Brasil se encontrava no início do século XX onde essas províncias que possuíam
uma forte influência política acabavam por manipular decisões nacionais.
O autor narra diversas histórias desse lugar de maneira ironizada para
que o leitor se identifique com o Brasil nas questões como abuso de poder e o
nepotismo do início da república onde pregava-se igualdade e direito para todos. Tal realidade desse país criado por Lima Barreto nada mais é do que a realidade
enfrentada pela população brasileira do início do século XX, mas que ainda hoje
continua sofrendo com os mesmo problemas nas quais o autor tanto citou, carregando traços de uma
sociedade individualista e elitista que é a República dos Estados Unidos da
Bruzundanga, ou melhor, dizendo do Brasil.
BIBLIOGRAFIA:
BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. São Paulo: Martin Claret, 2009. -- (Coleção a obra-prima de cada autor; 288)