Páginas

domingo, 29 de junho de 2014

BRUZUNDANGA: A República de Lima Barreto

Lima Barreto inicia sua obra de publicação póstuma ''Os Bruzundangas'' onde ele fala de um país ''fictício'' de origem semelhante à do Brasil e ao decorrer da história irá narrar o contexto social, político e econômico e os problemas ''maiores'' e ''menores'' ao decorrer deste livro literário. 
Afonso Henriques de Lima Barreto 1881-1922)
mais conhecido como Lima Barreto,considerado
 um dos mais importantes escritores brasileiros.


No capítulo especial ''Os Samoiedas'' o autor começa a falar da literatura desse ''país'' de forma amistosa mostrando a literatura popular e oral onde os hinos e fábulas estão presentes, além da forte presença da cultura estrangeira que se mistura com o contexto social.
De maneira generalizada, a ''Bruzundanga'' possuía todas as características que as demais repúblicas possuíam, por exemplo, o sistema governativo. Sua fonte econômica não era variada nem estabilizada. Seu sistema político é visto como incompetente pelo autor a tal pouco de fazer críticas que nos remete a uma realidade da sociedade brasileira no período inicial da república onde ele mostra exemplos de políticos que usam o poder público em benefício próprio. A divisão entre a elite e a população menos abastada é nítida na república da Bruzundanga, onde nessa elite detém o poder e benefícios enquanto os pobres sofrem ao procurar uma melhor condição de vida.
Uma das várias edições da obra póstuma do jornalista
 carioca, na qual fala sobre um país fictício onde impera
a desigualdade social e o péssimo uso do
patrimônio nacional.
A política econômica da República da Bruzundanga é bastante instável, pois sendo um país de farta riqueza natural e propenso à boa evolução acaba por se estar na miséria, mas o que o autor tenta buscar um motivo para tal coisa e embarca numa análise da elite bruzundanguense onde o nepotismo está presente em assuntos do Estado. As riquezas naturais da Bruzundanga são semelhantes com a do Brasil como a borracha, ouro e diamantes, mas a base da economia do país é o café onde envolve até a política oligárquica favorecendo os mais ricos. A constituição da República do Bruzundanga era vista como uma mudança estrutural pelo qual o país precisava passar onde o autor faz uma ponte entre a Bruzundanga e o Brasil, ambos de origem colonial e que se consideravam contemporânea, além da base econômica que é a agricultura, onde o sistema do coronelismo é muito forte nas áreas rurais já que o braço do Estado não alcança a população campesina. 
Na sociedade bruzundanguense a elite está completamente ligada à política, os anos passam, mas essa elite que detém o poder do Estado continua atuando em todos os setores da vida pública. Lima Barreto ressalta o comércio feito na república bruzundanguense, onde o capital estrangeiro era crucial para a sociedade ao invés do enriquecimento econômico, ela acabaria por se empobrecer comercialmente. Outra semelhança que o autor descreve é a ''autonomia'' que as províncias da Bruzundanga possuem. De certo modo não há uma centralização do poder, ou seja, é semelhante ao sistema de oligarquias que o Brasil se encontrava no início do século XX onde essas províncias que possuíam uma forte influência política acabavam por manipular decisões nacionais.

O autor narra diversas histórias desse lugar de maneira ironizada para que o leitor se identifique com o Brasil nas questões como abuso de poder e o nepotismo do início da república onde pregava-se igualdade e direito para todos. Tal realidade desse país criado por Lima Barreto nada mais é do que a realidade enfrentada pela população brasileira do início do século XX, mas que ainda hoje continua sofrendo com os mesmo problemas nas quais o autor tanto citou, carregando traços de uma sociedade individualista e elitista que é a República dos Estados Unidos da Bruzundanga, ou melhor, dizendo do Brasil. 

BIBLIOGRAFIA: 
BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. São Paulo: Martin Claret, 2009. -- (Coleção a obra-prima de cada autor; 288)

Um comentário: